terça-feira, 21 de abril de 2009

Poesia Espanhola : tradução de Fábio Aristimunho Vargas

Dica de leitura do mês. Acompanhei este projeto. E quando soube do lançamento não acreditei. É impressionante como as coisas neste país são difíceis quando falamos de cultura. Ainda assim, quando o assunto é poesia, o cerco fecha mais ainda. Este projeto é sério e competente. Sendo assim, ao saber do lançamento eu fiquei estupefado, alegre e feliz. Afinal, não se lançam 4 livros de poesia de uma só vez. Quando o projeto é ótimo, tem qualidade, tem que ter apoio e tem que vir a público. Muito bom saber do lançamento, agora oficial. Parabéns ao Fábio pelo competente e árduo trabalho de pesquisa e tradução. Quero ler um por um tão logo consiga comprá-los. Apesar de ter conhecido o projeto, agora em livro fica diferente tal leitura. Humberto Al.


Folha de S. Paulo
Caderno Ilustrada
São Paulo, sábado, 18 de abril de 2009

RODAPÉ LITERÁRIO
A esfera infinita da poesia

Nova coleção reúne diversas tradições poéticas das regiões espanholas, dos versos galegos aos bascos

MANUEL DA COSTA PINTO
COLUNISTA DA FOLHA

TENDO EM comum o subtítulo "Das Origens à Guerra Civil", os quatro volumes sobre a "poesia de Espanha" organizados por Fábio Aristimunho Vargas são um notável trabalho de síntese: apresenta tradições literárias derivadas de vertentes linguísticas distintas -castelhana, catalã, galega, basca- e acaba demonstrando como o idioma da poesia constitui um país sobreposto ao território (mesmo quando incorpora suas tensões). Pode-se dizer que a Espanha, como unidade política, é uma metonímia do mundo globalizado: compreende vários países dentro de sua extensão geográfica, possui uma metrópole hegemônica (Madri), que entretanto não cancela outros polos -um pouco como a esfera infinita de Pascal, "cujo centro está em toda parte e a circunferência em parte nenhuma". E se alguns desses centros conquistaram o estatuto de comunidades autônomas por pressão do violento nacionalismo basco ou do separatismo cultural catalão, a literatura -cuja nacionalidade é a língua- não pode prescindir do comércio com outros domínios. O maior exemplo está no volume "Poesia Espanhola", em que Vargas indica como Garcilaso de la Vega foi influenciado pelo valenciano Ausiàs March, que aparece em "Poesia Catalã". E há ainda, em "Poesia Galega", um dos poemas nesse idioma feitos por Federico García Lorca (cuja obra foi escrita essencialmente em castelhano). As apresentações dos volumes são breves e esclarecedoras, indicando peculiaridades histórico-culturais; as traduções trazem, ao final, o poema na língua de origem; e os apêndices incluem, além da biografia dos escritores, quadros que colocam essas literaturas em paralelismo cronológico e ortográfico. Dito isso, é digno de nota que as intempéries políticas -que se estenderam para além da Guerra Civil vencida pelo "generalíssimo" Francisco Franco em 1939- muitas vezes congelaram as tradições poéticas dos territórios submetidos. Enquanto a Espanha vivia seus "Séculos de Ouro" (renascimento e barroco), com Garcilaso, Góngora, Quevedo e Calderón de la Barca, a Galícia entrava nos "Séculos Escuros" de uma produção literária "praticamente nula", segundo Vargas. E, no caso basco, alguns poemas parecem confinados a temas como a celebração da paisagem e a luta pela independência. Mesmo aqui, há momentos de impacto, como no verso que abre "Contrapasso", de Bernat Etxepare: "Euskara,/ mostra a tua cara", que o leitor certamente vai associar à música de Cazuza ("Brasil, mostra a tua cara") -e que prova como o tradutor soube recriar poemas que sobrevivem a seu contexto original graças à língua basca (euskara) e não à utopia regressiva da "nação basca" (Euskal Herria).

Autor: vários
Tradução: Fábio Aristimunho Vargas
Editora: Hedra
Quanto: R$ 15 (cada volume de 160 págs. em média)
Avaliação: ótimo

Um comentário:

Fábio Aristimunho disse...

Alitto, só agora vejo sua postagem. Obrigado pelos gentis comentários. Espero que já tenha encontrado os livros.
Grande abraço,
Fábio