terça-feira, 21 de outubro de 2008

32a. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo





A Mostra começou e diante de muita espectativa. Pelo menos eu que sou fã de Ingmar Bergman estou curtindo esta homenagem. A Cosac lançou livro inédito sobre Liv Ullmann, esposa de Ingmar e que marca presença na Mostra. Eu tenho uma lista enorme de filmes que quero ainda vê-los. O problema é que tenho outras coisas em paralelo e está sendo um problema colocar tudo em um cronograma factível de ser cumprido na integra. É complicado. Justamente, porque estão acontecendo outros eventos culturais em Sampa. Por exemplo, o Sesc está com uma Mostra Internacional de Teatro e tem um monte de shows acontecendo. Musicalmente, a cidade ferve mais que tampa de chaleira. Teatralmente, idem. Agora, Mostra de Cinema é prioridade, exatamente porque acontece uma vez por ano. Temos logo mais a Bienal de Arte. E tudo vai esquentando até o final do Ano, quando os eventos começam a ficar mais escassos até desaparecer. E voltamos no ano novo com pilha total. Só pra comentar rapidamente, vi a estréia da nova peça de Marília Gabriela, "Aquela Mulher", no Sesc Anchieta. É um monólogo com três atos. No primeiro, a personagem parece uma executiva perdida entre papéis, hobby de seda, óculos pesados, sentada no chão e dizendo pensamentos em vóz alta. No momento em que o cabelo fica caindo sobre o rosto não é possível reconhecer a Gabi. Depois, parece ela mesma com os módicos óculos de sua coleção. O cenário sóbrio, escuro, de paredes de vinil (pelo menos aparentam ser de vinil) limitam a personagem naquele circulo envolta duma poltrona discreta. No segundo ato, a personagem é eleita a mulher que governará a nação mais poderosa do mundo. Dona Hilary ? Aparece vestindo um conjunto taier defronte de um palenque, inicia um discurso sobre tudo - fala coisas comuns e outras mais inteligíveis. O vinil preto das paredes agora reflete cor púrpura e seu terninho cinza vai acumulando aquela cor. A personagem engorda com a luz, os óculos e cabelos aloirados tomam outros aspectos. Já no último ato, ela surge como um anjo de asas negras com pontas avermelhadas, modelito preto colam com espartilhos e peruca enegrecida, um pouco mais verborrágica pontuando com textos mais certeiros, toma um rumo mais cômico da peça. O cenário até então escurecido com ar de vinil ganha luzes verdes de neon. O que remete a um cenário futurista, pode também lembrar a recepção de uma boate hightech. E o anjo apocalíptico seria mais uma referência a uma host daquela tal boate ou um personagem bizarro saído de um filme teenager ! No final, tudo se encontra. Aquela mulher poderosa, de projeção internacional, que perdoa um marido que a traiu com uma estagiária, é também humana, sofredora em alguns momentos e feliz noutros, critica implacável mas que sabe compreender, ela é um pouco de todos nós. O texto tem momentos felizes, alegres, inteligentes, e outros cansativos. Como no começo, em que as pausas são marcadas por acender e apagar das luzes. Os óculos como atributo da personagem fazem confundir-nos com a atriz. Em que momento estou vendo a Gabi e em que momento vejo a personagem ? Isto poderia ser melhor trabalhado na construção da personagem. E o cenário limitou muito praquele palco imenso do Anchieta. Aproximou a personagem da platéia, mas ficou um tanto limitado e sufocante demais. Se a idéia era deixá-lo minimalista e ousado, ficou apertado e carregado. Porém, interessantíssimo o fato do truque das paredes que lembram vinil, plástico, algo que remete ao sado, ao movimento dark, assim como, aquelas luzes de neon verde. A direção trabalhou bem. A música idem. É um bom espetáculo.
Nota.: o vinil preto trás uma influência maso, meio oitentista, lembrou-me alguns clipes que via quando adolescente do INXS, Depeche Mode, estas tendências gringas. Ainda não li a biografia de Hilary pra saber quem era na adolescência, o que ouvia e como sentia as coisas. Entretanto, ficou algo no ar daqueles jovens punks e darks. Seria a mulher poderosa uma dominatrix, presença líder num mundo governado por um poder sínico e centralizador, maniqueísta e opressor ? Isto não ficou muito claro no texto, que lembrou memórias e não respostas para o futuro.




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