sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Para assistir no DVD.

O Baile (Le Bal)

É um filme homônimo de Ettore Scola e que acaba de chegar nas locadoras em DVD.
A história - adaptada para o cinema - conta um período de 6 décadas, dos anos 30 aos anos 80. A narrativa varre todo este período, sem um diálogo sequer, apenas músicas, danças e representação. O que não deixa de ser emocionante e curioso. A proposta é interessantíssima sobre a construção destas épocas. O salão nobre que acolhe os frequentadores, vai mudando suas características ao longo da história. Assim como, os personagens e seus figurinos. Ao que parece, durante o período das guerras, o salão serve de bunker ou refúgio para os frequentadores. Em outras épocas, como um lugar abandonado onde jovens estudantes e intelectuais faziam reuniões.

É impressionante como este filme e seus personagens nos cativam ao ponto de enxergarmos um pouco de nós mesmos. Eu ficava pensando como eu deveria ser naquela época e tempo. Como viveria em épocas durante uma guerra, durante a explosão do Rock, durante as revoluções estudantis, ou Maio de 68.

O filme mostra com competência tanto figurino de épocas, gestos e trejeitos, músicas e danças. Em alguns momentos do filme, parece que é dada bastante evidência ao comportamento pedante e esnobe das elites militares e aristocratas. Como um casal esnobe de milionários que vez ou outra entra na história, ou um general solitário e egoísta que não encontrando uma parceira, acaba dançando com seu comparsa. É de rir. Outrora, chega a ser depressivo. Estes arquétipos vão aparecendo na trajetória do longa, com alguns exageros dos personagens e algumas caricaturas. Fica evidente o trabalho de construção de arquétipos interpretados com naturalismo e outros beirando um realismo ora expressionismo. Existe uma cena onde entram uns rapazes bad boys, rockabilly generation, que parecem terem saído da banda The Cramps. Estes rapazes rockers quase destrõem o salão. E realizam uma bela performance no melhor estilo Elvis. Depois, insinuam uma briga : um segurando uma cadeira e outro segurando um tipo de chicote, realizando um duelo como se fosse entre um domador e um animal. Isto lembrou muito uma passagem do "8 1/2" de Federico Fellini. Um outro filme realizado 10 anos antes deste que comento. A cena que antecede esta dos bad boys é a melhor. Estas duas sequências creio que sejam a culminância do filme. Percebam um rapaz de bigode, sentado em um banco, de terno marrom e óculos quadrados. Depois de tomar café no pires (derrubando propositalmente da chícara), ele convida uma garota para dançar. Ela usa um vestido azul típico daquelas adolescentes dos anos 50. O casal dá um show dançando tango. Pra mim, a melhor dupla e número de dança do filme. O personagem retrata um homem com domínio e controle, com tônus e decisão, e a jovem se entrega ao comando, àquela ação.

Neste ponto, das aparências, comportamentos, ausência de diálogos, que o filme ilustra ricamente as personalidades distintas. E onde encontro parênteses. O que me chocou de certa maneira. Como são os relacionamentos aparentes. Como as pessoas reagem de diferentes formas apenas durante um baile, onde se vai para divertir. Elas conseguem fazer do evento algo maior. O que não deixa de ser um esboço para tais emoções. Me identifiquei com inúmeros personagens do filme. O que fez refletir sobre passado, presente e futuro. E os figurinos são magníficos. Vendo este filme dá vontade de fazer dança de salão. Que épocas ricas retratadas apenas dentro de um salão. A idéia foi genial.

Algumas curiosidades do filme :

Ganhou um prêmio César (versão francesa do Oscar) de melhor direção, filme e música em 1983. E Urso de Prata como melhor filme. Teve uma indicação ao Oscar como melhor filme estrangeiro.
Foi inspirado ( ou adaptado ) na peça “O Baile”, que é uma criação do grupo Théâtre Du Campagnol, criado por Jean-Claude Penchenat. Jean foi um dos fundadores do estupendo grupo teatral Théâtre Du Soleil (que esteve recentemente em São Paulo para apresentação da inesquecível peça Les Éphémères).
Jean-Claude Penchenat aparece no filme, dançando alegremente, é um personagem que usa óculos, cabelos grisalhos e um paletó estilo "espinha-de-peixe" com calça preta. Muito elegante e com total domínio de cena e dança de salão.

Fica aqui um pouco deste filme inesquecível :

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