Algum tempo atrás eu já havia comentado da valorização fora do Brasil deste grande dramaturgo. Um amigo meu de Grenoble/França, ganhou um livro contendo toda obra de Nelson. Aquela publicação da Nova Aguilar. E os comentários eram sempre estes : vocês tem um grande gênio no Brasil. Grande escritor e, talvez, o cara que melhor soube escrever e, pior, captar a alma brasileira. Isto é, como uma lupa que amplia o que há de mais sórdido, perverso, humano e belo do povo brasileiro. Ele disse isto sobre o aspecto da classe média e burguesa brasileira. Se não uma das classes mais poderosas em alguns aspectos, seria a mais complexa numa análise, digamos assim, mais psicológica. Trocamos inúmeros emails e, agora, falamos sobre esta estréia do grupo Macunaíma/CPT. Estive na estréia e quero retornar novamente. Quantas vezes for possível. Com Antunes, tornei-me cativo. Vejo suas peças com frequência. Se possível, mais de 10 vezes. Eu aprendi que em São Paulo não adianta correr atrás da propaganda, uma vez que nesta cidade encenam-se mais de 600 peças-teatrais por ano. E centenas de filmes. A crítica faz um bom papel. Entretanto, nem sempre ela diz aquilo que interessa a um público já iniciado no teatro e/ou cinema. Então, faço minha peregrinação solitária e elejo poucos amigos que são como guias culturais. Eles vão apontando aquilo que é bom ou ruim conforme nossas classificações, gostos e gêneros. Como num boca-boca mais seletivo. Com Antunes aprendi que sempre vale à pena. Se existe um encenador que me agrade sempre é este senhor e sua equipe. Em "Senhora dos Afogados", além disto tudo que a matéria do Estadão publicou (e no site da FolhaSP também tem outras matérias sobre a peça) percebi que Antunes está trabalhando mais com o corpo de atores homens. Eu já conhecia o texto que é belíssimo. E nem é um texto muito difícil pela leitura. Entretanto, o complexo é a montagem mesmo, os personagens e a vóz, como dizer, como encontrar o tom, dentre outros aspectos complicados. Existe nesta peça mais homens que mulheres. Como poderia sugerir o texto e/ou adaptação. E até um ator homem passa por uma mulher (visinha/coro), com maquiagem e tudo. Muito bom, por sinal, sua composição. Já o fato de ter homem fazendo mulher no elenco do grupo não é algo novo. Mas faz pensarmos que os homens estão mais presentes do que nunca nesta montagem. Se antes nas tragédias gregas existiam mais corpo feminino que masculino, e em "O Canto do Gregório" tínhamos um personagem masculino e protagonista que era interpretado por uma atriz, agora temos mais homens presentes no elenco da Senhora. Um outro fato curioso é como este elenco vem se reciclando. Apresentando ao público novas atrizes com talento e força. Assim como, novos atores. Percebi também uma grande evolução e mostra de talento reconhecível com o ator Lee Taylor. Pra mim, ele é um novo grande ator no CPT. É um ator jovem de muito talento, sensibilidade e qualidades que fazem-no superar-se a cada nova montagem do grupo. Em "Senhora Dos Afogados" teu personagem conseguiu ser tão marcante ou mais do que Quaderna, protagonista de "A Pedra Do Reino". Talvez, pela linguagem e formato da encenação, tenha me cativado tanto. O que é uma nota pessoal. E o que não deixo de comentar que percebi uma grande evolução, notória na composição do personagem, na pronúncia das palavras, que sugere um trabalho mais maduro. Não que Quaderna seja menor. O que é impossível. É um belo personagem. Isto é, um personagem mais cômico e engraçado do universo genial de Suassuna. Este de Nelson é alguém mais maduro, com outras nuanças, um outro tipo de arquétipo, que trabalha com outra verve, mais introspectivo, complexo talvez. Com este jogo de personagens, o ator mostrou repertório e competência, que foi pra mim significativo para compreendê-lo como ferramenta no trabalho de ator. No geral, surpreendo-me com a qualidade impressa deste grupo e da encenação séria e competente do mestre. Fui tomado por aquelas poucas horas e mergulhei no universo rodriguiano de uma maneira quase inebriante, embriagado pela história, músicas, figurinos, adereços. Foi como um golpe forte e eficaz que bateu sobre mim. Saí emocionado, pra não dizer chocado e boquiaberto com a beleza e perfeição de tudo. Não fiquei com dúvidas, vi uma das melhores encenações da minha vida.
Quem fizer mais buscas no google, encontrarão outras matérias e assuntos já publicados sobre "Senhora dos Afogados". Eis um espetáculo que recomendo veemente. É como procurar agulha no palheiro. Valorização esta tanto pela genialidade de Nelson Rodrigues (precisamos nunca esquecê-lo), quanto pela competente direção deste espetáculo e o eficaz corpo de atores/atrizes.
Sugiro leitura sobre o que publicou-se no Estadão :
http://www.estado.com.br/editorias/2008/03/28/cad-1.93.2.20080328.34.1.xml
Um comentário:
ÚLTIMOS DIAS NO TEATRO ARTHUR AZEVEDO!
O Núcleo Experimental da Cooperativa Paulista de Teatro apresenta o espetáculo musical SENHORA DOS AFOGADOS, de Nelson Rodrigues. Em sua quinta temporada, o espetáculo dirigido por Zé Henrique de Paula e realizado pela produtora Firma de Teatro ficará em cartaz até o dia 25 de setembro/2008 no Teatro Arthur Azevedo, no bairro da Mooca em São Paulo. Contamos com a sua presença!
TEATRO ARTHUR AZEVEDO
(Av. Paes de Barros, nº 955 - Mooca)
Informações: 11 2605 8007
Entrada: R$ 15,00 (inteira) / R$ 7,50 (meia)
De 06/08/08 à 25/09/08
Somente as quartas e quintas às 21h00.
'...revelar o impulso que move cada um dos personagens e as conseqüências desse comportamento - se faz presente com bastante êxito na montagem e contribui para a empatia do público e para a compreensão dessa peça que não está entre as mais fáceis do autor. O resultado é uma linha de interpretação que não é nem 'natural', nem caricata, construída no difícil equilíbrio entre contenção e densidade. Seca, sem tons melodramáticos, com marcações precisas e não cotidianas, a encenação lança seu foco no patamar trágico, o mais relevante nas ditas peças míticas de Nelson Rodrigues.'
Beth Néspoli - Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO.
'Também responsável pelo surpreendente Mojo, o diretor Zé Henrique de Paula reafirma seu talento ao transformar a tragédia escrita em 1947 em um musical. A história está intacta e traz a
densidade característica do universo do dramaturgo.' '... o bom elenco garante a tensão dramática.'
Dirceu Alves Jr. - REVISTA VEJA SÃO PAULO.
SENHORA DOS AFOGADOS de Nelson Rodrigues
Com
Einat Falbel - D. EDUARDA
João Bourbonnais - MISAEL
Lourdes Gigliotti - AVÓ
Marcela Piccin - MOEMA
Marcelo Góes - NOIVO
Thiago Carreira - PAULO
Alexandre Meirelles - SABIÁ
Elber Marques - VENDEDOR DE PENTES
VIZINHOS
Diana Troper
Fábio Redkowicz
Paulo Bueno
Thiago Ledier
MULHERES DO CAIS
Bárbara Bonnie
Bibi Piragibe
Carol Fioratti
Cláudia Miranda
Ci Teixeira
Karin Ogazon
Kelly Klein
Maíra Gomes
Patrícia Vieira
DIREÇÃO - Zé Henrique de Paula
DIREÇÃO MUSICAL - Fernanda Maia
(Piano - Fernanda Maia / Violoncelo - Kalyne Valente)
ASSIST DE DIREÇÃO - Fabrício Pietro
PREPARAÇÃO DE ATORES - Inês Aranha
ILUMINAÇÃO – Fran Barros
OPERAÇÃO DE LUZ – Karina Camillo
FOTOS – Guto Marques e Roberto Mourão
COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO – Cláudia Miranda
FIGURINOS - Zé Henrique de Paula
REALIZAÇÃO – Firma de Teatro
veja vídeo da peça em:
http://www.youtube.com/watch?v=capEf439dio
saiba mais visitando:
http://bocadecenacomunicacao.com.br/senhora/index.html
http://joaobourbonnais.blig.ig.com.br/
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