domingo, 19 de dezembro de 2010


Uma certa manhã

Costumeiramente, tenho dirigido ouvindo uma rádio de São Paulo que é muito peculiar : Rádio Eldorado. Sua sintonia é 92.8 em ondas FM. Digo peculiar porque tanto é especial para mim quanto para alguns amigos que ouvem esta mesma programação. Hoje, foi um pouco diferente. O transito tranqüilo, as ruas de São Paulo não pareciam pertencer à uma sexta-feira de Dezembro. E estando às vésperas das festas de final de ano, onde todo tumultuo é sinal de que o comércio e as pessoas querem chegar logo aos finalmentes. Desembrulhar presentes, fazer ceias, cumprimentar parentes queridos e desejar Boas Festas. Eu continuava concentrado na programação. De repente, Nelson Motta aparece falando de Sérgio Dias, que está completando 70 anos de idade. Sérgio e seu irmão Arnaldo Baptista, junto com Rita Lee, foram fundadores da banda Os Mutantes. Importante banda brasileira de rock progressivo no cenário musical brasileiro na efervescência do rock ainda nos anos 60 e 70. Nelson comentou que Sérgio Dias é hoje o músico brasileiro de maior repercussão internacional. O que pra mim foi uma surpresa. Acostumado a ver artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Lenine, que são admirados na França, consumidos em vários países, de repente, saber que Sérgio Dias está no ponteiro é surpreendente. Eu gosto da musicalidade deste pessoal, da genialidade, de como nós brasileiros somos criativos à ponto de transformar as culturas vindas de outros países num formato com características brasileiras. O famoso “jeitinho brasileiro”. Após degustar da notícia de Nelson Mota e ouvir uma música de Sérgio, entra o comercial. Toda programação de rádio e televisão tem algumas boas horas dedicadas a comerciais. Exatamente, porque é uma fonte de renda daquele veículo de informação e entretenimento. No caso deste comercial, em especial, estava a propaganda do revolucionário iPad, da Apple. Onde uma voz masculina informava características do produto como : melhor maneira de visualizar fotografias, navegar na internet, realizar apresentações. Se o produto é mesmo revolucionário eu não posso afirmar. O que sei é que a Apple é muito competente na realização e lançamento de seus produtos. No quesito design, são verdadeiras obras de arte em formato de produto tecnológico. Exatamente, porque a Apple persegue obstinadamente a perfeição no design, na embalagem do produto, sua funcionalidade, dentre outros itens. O mais interessante desta história é saber que Nelson Motta teria comentado que Sérgio Dias é o músico de maior expressão no cenário internacional, e no intervalo, anúncio de um produto revolucionário que nos colocam na internet em questão de segundos. E ainda, o anúncio do site www.sintoniafina.com.br, de Nelson Motta, onde existem informações mais detalhadas sobre as coisas que ele fala na programação da rádio Eldorado. Estamos definitivamente num mundo onde não existem mais barreiras para a informação e o conhecimento. Rádios, televisores, internet, computadores, todos estão interligados. Lembrei-me do poema “Cotovia” de Manuel Bandeira. Se não estou enganado, poema este escrito em uma de suas obras ainda nas décadas de 20 e 30 do século passado. O poema Cotovia contagia-se deste mundo imaginado, surreal, que não existe. Da esperança deste encontro por trazer novas notícias, de lugares desconhecidos. Tem a melancolia e a tristeza de anos passados que não voltam mais. Este pássaro europeu que viaja por países e continentes, indo parar na terra natal de Bandeira. Logo, existe um retrocesso a sua infância, exibindo cenários conhecidos desta sua época. A busca por notícias, por acontecimentos, dá a impressão de que existe esperança. Por um outro lado, temos a marca desta alegria perdida, que não volta mais. Então, existe esta crença ou acomodação de que o mundo adulto torna-se por vezes sem graça, triste, melancólico e que não valeria a pena. São as marcas de tristeza que estão no cotidiano da obra de Bandeira. Agora, vemos também em Cotovia uma alegoria desta ave trazendo notícias de outros continentes, indo para o Recife. Novidades, ares novos, sair da mesmice. Ela nos dá esta sensação, de resgatar os sentimentos tão caros ao homem como a alegria e a tradição. É por isto que eu continuo ouvindo uma rádio que me é peculiar. Porque é possível termos minutos de prazer diante de uma rádio num carro fechado à seguir pelas ruas de São Paulo. Ruas estas, ora berulhentas, congestionadas, causando estresses emocionais e físicos, e ora tranqüilas e prazerosas como foi no dia de hoje. Rever Sérgio Dias e Manuel Bandeira neste meu repertório matinal me deu grande alegria. Um outro hábito que tenho é correr nas ruas do parque Ibirapuera ou USP nos treinos de atletismo que realizo entre sábados e domingos. Costumo ligar o mp3 com uma seleção programada e sigo correndo 10 kilômetros, 15 kilômetros até 21 kilômetros em dias de treinos mais longos. Aprendi a concentrar na corrida mesmo ouvindo música. Porque faço com o som baixo. A música alimenta nosso espírito de alegria, pode unir pessoas em eventos, causas, está cercada de tecnologias e sabedoria. Faz muito tempo que trabalho com tecnologias e tenho contato com música desde muito criança. Participar desta evolução tecnológica e cultural me faz sentir uma pessoa em constante aperfeiçoamento e atento as mudanças. E, desta forma, participar com meus amigos e comunidades, de um mundo cada vez mais unido por conta de vários formatos de comunicação e entretenimento.

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