sábado, 1 de setembro de 2007

Steppenwolf Born to Be Wild - Easy Rider



SteppenWolf fazia um som muito bom naqueles anos psicodélicos sessentistas e setentistas. Pena que a banda viveu da glória de um sucesso apenas. Ou seria apenas pelo fato de um disco bem sucedido ? Acabou tão rápido como um cometa. Como tudo que é bom e dura pouco. O filme "Easy Rider" é um dos que mais revejo. O fato dos protagonistas viverem aquele sonho de liberdade dos jovens americanos daquela época - de pegar a moto e sair na estrada ( Lembra Kerouac, Allen Ginsberg e outros beatnicks ) - era o sonho de consumo daquela molecada. Viver sem medir as consequências. Viver por um tanto e bastaria para serem felizes. Peter Fonda e Denis Hopper interpretam dois jovens típicos daquela geração, saem em busca de liberdade. Wyatt ( personagem de Peter ), aparece com uma grana preta que conseguiu através do tráfico de drogas . Percebam logo no início do filme, aparece um figurão muito estranho e pedante ( um dandy novaiorquino ? ) para comprar o pó contrabandeado. Daí, surge o dinheiro que bancará a viagem de Wyatt e Billy. E ao invés de encontrarem a liberdade que imaginavam através de um sonho, encontram a pura realidade das coisas. Ao encontrarem uma comunidade hippie, percebem naqueles jovens uma vida limitada e sem grandes perspectivas. Apesar dos jovens hippies terem quase tudo : teatro, música, rituais, sexo, drogas. Entao, Billy e Wyatt sentiram não pertencer àquela tribo. E iniciam outra jornada. Pois, a idéia era viajar para cruzar um caminho traçado. A morte retratada no final do filme nada mais é do que uma metáfora de que “o sonho acabou”. Como John Lennon cantou certa vez na música “God”. Pois, dizia não acreditar em Deus e nos Beatles. E porque não afirmar que apenas o sonho acabou pra toda aquela geração. Diante de guerras e da vida moderna, os jovens continuavam sem perspectivas, vivendo uma realidade triste. Talvez, esta metáfora não seja apenas uma espécie de pensamento filosófico. Talvez, Easy Rider diga muito mais. Os tempos mudaram e são outros. Ninguém mais vive em comunidades como os hippies viviam. Nem existem festivais como Woodstock e com aqueles apelos todos de protesto. Hoje, os jovens ocupam-se com outras coisas e existem muito mais opções de distração. E este distrair-se pode ser perigoso. Pois, novamente, mergulha-se num sonho ( alegre ou triste ), e tornam-se escravos. E voltar pra realidade é uma outra questão. Esta realidade discutida em Easy Rider nos faz, de fato, analisarmos como é estar diante da nossa realidade nos tempos atuais. Conviver com isto e ter consciência. Imagino que Dennis Hopper pensou também em questões políticas ao dirigir este filme. E o tema, mesmo depois de 30 anos, continua pertinente e atual. Jack Nicholson ganhou um prêmio como ator coadjuvante e interpreta um personagem carismático e louco : George. Além de bêbado e de usar um terno menor que o teu tamanho, só mete em roubadas. É um caipira que resolve enturmar com dois motoqueiros sem destino. Novamente, a questão da ingenuidade que é marcante na juventude, por conta da falta de conhecimento, da base, e dos estímulos para jogar-se no desconhecido. Que é outra questão pertinente ao mundo jovem. A maneira como o filme acaba é sinistro. Isto é, a vida dos protagonistas ser influenciada tragicamente por um choque cultural. Exatamente, pelo preconceito ao confrontar-se com as culturas do interior estadunidense. E não é só por isto. Como é metafórica, então, o que acabou foi o sonho da liberdade. Ninguém está livre. E isto é sufocante como desfecho do filme. Ou da vida ?

Um comentário:

Ademar Rodrigues disse...

Ótima análise!!!
Estava vasculhando a net sobre um assunto que nem me lembro mais e me deparei com "sua" análise de Easy Rider.
Minhas felicitações, principalmente pelo precisa transposição das metáforas.
Já havia lido algumas teses sobre esse livro (que dá origem ao filme), mas a sua é de longe a com as idéias (hipóteses) mais claramente escritas.
Adicionei seu blog, com tempo espero descobrir outros bons textos.