terça-feira, 8 de setembro de 2009

O Último Poema

Assim eu quereria o meu último poema
Que fosse eterno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais

Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

"O último poema de Libertinagem expressa os desejos do “eu-lírico” para um último poema (função metalingüística). Ele deveria conter ternura, ardor, beleza e pureza simples, além da paixão dos suicidas que não explicam seus motivos."

Estava eu a ler estas passagens da obra "Estrela da Manhã", de Manuel Bandeira. Livro composto de 28 poemas. Do qual, o que mais gosto é Estrela da Manhã. Sempre achei Manuel Bandeira triste, e esta melancolia em muito lembra alguns períodos que passei ao longo de minha vida. Todos nós temos momentos de melancolia, tristeza profunda, por vezes, uma alegria contagiante. Mas sempre voltamos para dentro de nós mesmos. Onde nos fazemos entender, onde buscamos um pouco mais de conhecimento destas reações. O que nos motiva a tal situação e o que nos tira disto. Enfim, a poesia é uma escola. Uma escola que nos ensina a observar coisas que só os poetas podem nos dizer. Exatamente, por eles serem esta lente de aumento que nos trás os sentimentos mais pulsantes, mais vicerais e que mais tocam a alma. Fico feliz porque uma situação me trouxe de volta Manuel Bandeira. Que estava meio empoeirado na estante.

Quanto a frase acima comentada, "além da paixão dos suicidas que não explicam seus motivos", que vem a justificar a maneira como Manuel Bandeira conclui o poema. Não explicar seus motivos é a ação sem dar razão. É o ato, do desespero, e que muitas vezes cometido por conta de uma enorme dor. Muitas vezes, podendo ser entendidas como dores do amor. Neste caso, o amor de Bandeira seria o livro, teus poemas, e o suicídio seria a conclusão da obra. O ato estanque de concluir algo que muito lhe custou : o livro acabado. A frase eu achei impactante e ao mesmo tempo muito nos remete ao estilo de vida conturbado e moderno de hoje. Cada vez mais as pessoas se tornam suicidas de suas próprias vontades, matando seus desejos e sem explicar seus motivos. Compram mais do que podem, suicidam seus salários nos balcões das lojas, e sem explicação entram num loop vicioso. Assim como, comem, bebem, dorme, acordam, trabalham ... são os suicidas a longo prazo e sem explicar seus motivos tomam seus remédios e cultivam seus problemas e cultivam problemas alheios e tomam remédios alheios ... É o mal da sociedade moderna e que um dia chegará algum fim. Vivemos uma eterna transição. Nunca acaba. Não me perguntem porque. Talvez, a resposta esteja neste processo natural de evolução. Talvez, esteja na forma competitiva que chegamos. No cume deste capitalismo selvagem. E não tem muita lógica. Alguns conseguem amadurecer e romper barreiras, criando novas formas de viver de uma forma menos compectitiva, mais conectados com a natureza. No entanto, a maioria dos indivíduos que vivem nas grandes cidades, vivem esta grande ordem/desordem, o caos e que virou um meio de sobrevivência. Então, voltemos à poesia. O lado lúdico que tanto precisamos nos momentos de sossego. A arte que veio do homem e lhe dá aos seus semelhantes o senso criativo de viver. Humberto.

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