quarta-feira, 19 de dezembro de 2007
Metamorfoses ...
Incrível, como Kafka continua rendendo. Isto é, o romance "A Metamorfose" ainda é um livro extremamente contemporâneo e sofisticado. Esta animação que postei acima tanto mostra o universo feminino, recheado de estéticas e padrões de beleza, quanto temas mais profundos como identidade, sexualidade e aceitação. Atualmente, tenho visto muitos jovens sofrerem com estas passagens da adolescência para vida adulta. Principalmente, a questão da aceitação (corpo, vóz, aparência, conteúdo e sexualidade). E o que mais me assusta não é o fato do jovem aceitar a si mesmo, e sim, como recebem as reações alheias. Ou seja, parece que eles dão muito mais importância às opniões. Como os outros irão aceitá-los. Os que sofrem mais são aqueles que ainda não tem afirmação, vivem num eterno universo de questionamentos, perguntas e poucas respostas. As dúvidas são interessantes para propor pensamentos. E justificar o fato da busca pelas melhores respostas. Entretanto, creio que a personalidade bem construída irá dar uma base sólida para as mudanças vindouras. Eu tenho tido muito mais amigos na faixa dos 30 aos 50 anos. E como tenho enriquecido com isto. Parece-me que esta fase dos 30 aos 50 seja a mais interessante. Eu acabei de entrar na faixa dos 30 e poucos anos. E tem sido ótima. Considero muito melhor que as anteriores. Quando eu tinha vinte e poucos anos, gostava de conversar com pessoas entre 20 e 30 anos de idade. Parece que a cada nova década que enfrento, somo pessoas com mais de 10 anos do que eu tenho. Ou seja, entro num novo ciclo. Se hoje tenho 33 anos, meus melhores amigos estão na faixa dos 35 aos 45 anos de idade. Claro que tenho ótimas amizades com pessoas de vinte e poucos anos. Todas as fases são interessantes para o indivíduo. E amizade é um tanto complexo para que eu possa definir. Pois, existem inúmeros fatores em jogo. Mas afirmo com convicção de que aprendo muito mais e vivo com mais intensidade agora. Sem medo. Sem dúvidas eternas. Parece que entramos numa nova fase do jogo. Como se tivéssemos montados em cima de uma máquina possante e a velocidade pouco importa. Antes, parecia estar montado em uma máquina que corria velozmente mas era frágil. A idade é algo extremamente interessante. A fase dos trinta aos quarenta anos de idade tem sido surpreendente. Tem sido reveladora. Ao mesmo tempo que é romântica, é sofisticada, translúcida, perfumada, sedutora, sábia. Ela vem com toda sapiência e te envolve num manto poderosíssimo. Você sabe o que quer, onde quer estar, o tempo que quer ficar e para onde mira sua pontaria. É extremamente orgástica, criadora e criativa, artística, poética, rima em versos livres, não te prende, te joga em voo livre e você sabe que suas asas te suportarão. Este suporte é magnífico. E, principalmente, a vontade de realizar. Você sente a cobrança, logicamente. Mas as realizações são recheadas de conteúdos, significados, parece que temos mais expressão, mais sentido. Tudo é melhor. Quero vivenciar e aproveitar os momentos. Daqui 7 anos irei entrar na casa dos 40. Outra fase. Outra metamorfose. Creio que será belo. Não estou nem aí para calvícies, rugas, aparências plásticas, cabelos brancos, óculos mais fortes por conta da miopia, roupas novas para parecer mais jovem. Creio que com meus 40 anos irei andar de preto, com cabelos compridos até os ombros, óculos escuros e pesados, sem relógios de pulso, livros para presentear amigos (sempre), retórica para enxugar as falas, um bom aparelho portátil de som ( tocando alguma coisa erudita, jazzística, de repente, um blues ou um som industrial moderno) para destrair das maluquices modernosas que infectam a atmosfera clássica da paisagem, um par de sapatos velhos desbotados, alguma tatuagem que marcará alguma fase qualquer futura, e a cabeça plugada na arte. De repente, um bar para sentar e jogar conversas foras, sem preocupar-se com o tempo que avança. Distrair com as atmosferas, as temperaturas, os cheiros, o tempo oriental e a sabedoria zen. Um mutante ? Um ser humano mais velho e feliz ? A infelicidade existe porque permitimos. Umberto Eco acaba de publicar um livro sobre a feiura (História Da Feiura) que é lindo. É antítese. Um livro belo, sobre artes belas de figuras "feias". O conceito é o mais importante. E o gosto é algo tão pessoal. Afinal, como uma amiga minha disse certa vez : "A beleza está nos olhos de quem vê". Eu respeito a idade, todas elas tem seus momentos. Respeito a criança, o jovem, o adulto e a velhice. Todas são lindas. Tem sua poesia e musicalidade intrínseca. A personalidade ainda é um grande mistério. Descobrir a si mesmo, compreender o outro, aceitar sem preconceito o mundo que te cerca. É um exercício complexo e exige tempo. Entretanto, só mudamos quando compreendemos verdadeiramente os significados. Não só ficar nas aparências. E sim, ver o âmago, o seio da questão.
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Um comentário:
Vivendo e aprendendo. Acreditava que somente o belo como arte chamava a atenção, seja pela cor, pelo raciocínio ou mesmo pela surpresa que causava no observador. Graças ao Humberto Eco, aprendi que a feiúra tem o mesmo impacto da beleza, apenas pelo sinal contrário. Um como reverso do outro. Ótima sua observação.
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