segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Baby Boom e os novos tempos de sempre




Baby Boom e os novos tempos

Sim, Baby, as gerações fracassam vez ou outra. E você ainda é uma criança e pode ser que nasceu no período errado. O que eu quero dizer é que eu nasci numa época estranha. Vivi uma pré-adolescência onde era possível assistir na TV Chacrinha, Xuxa, Guerra no Vietnã ainda rendia matérias no Fantástico, Sylvester Stallone dava início numa expansão prolífera com a série Rambo, a revista Manchete era o que mais se lia nas Bancas de revistas e Caras era um coletivo de rapazes (hoje, dizemos “os manos”), RAP era uma música de negros que soava alguma coisa “Made In USA”, Walkmans eram importados e precisavam de uma pochete para carregá-los e usavam 4 pilhas grandes, a Glasslite vendia brinquedos inspirados na série de TV Chips, com Erik Estrada. A Madonna não passava de uma guria sem graça alguma, com uma roupa de brechó e uma voz que não emplacava (a não ser pela atitude). E Menudos era uma fantasia infanto-juvenil para agradar as meninas de todas as idades. Então, donde surgiu o termo Baby Boomers e o que isto representa pra minha geração? Este termo remete ao fenômeno de nascimento demasiado de crianças numa época. Entretanto, os anos 50 marcaram uma geração de novas crianças nascidas no pós-guerra. Nos USA, onde o fenômeno é mais conhecido, as crianças nascidas no início da década de 50, são hoje representadas por gente como Bill Gates, Steve Jobs e Bill Clinton (apesar de ter nascido em 1946, conseguiu pegar esta geração inteira). Estudos comprovam que muitos jovens nascidos na década de 50 viveram intensamente os anos 60 e, depois, migraram para universidades para cursar economia e, posteriormente, trabalhar na Bolsa em Manhatan. Surge então os Yuppies, novos ricos e ávidos consumidores de moda e luxo. Eu nasci na década de 70 e o que eu tenho a aprender com a geração Baby Boomers ? Daqui da América do Sul (romântico esta palavra que define este continente, não ?) o que eu vejo são pessoas que desfrutaram da troca de informação e aprendizados com tal geração. Ou apenas estudando ícones, como os nomes mencionados, para aprender alguma coisa. Eu não quero fundar uma nova Microsoft, assim como, nem pretendo mudar para Nova York. Quando eu era adolescente, assistia pela TV a queda do muro de Berlim - praticamente em tempo real. E aquilo representou o fim de um monstro (Holocausto) que precisava ser enterrado. Então, eis que o Neo-Nazismo tenta ressurgir anos depois. Como um Vampiro, que quer ressurgir da morte, um morto-vivo. Anos mais tarde, em 2001, recebo no meu Pager uma mensagem de um amigo para ligar a TV e ver online a queda do World Trade Center. E o WTC era o marco da geração Baby Boomers, um conglomerado de escritórios luxuosos e milhares de Yuppies vitoriosos. Aqui no Brasil, passamos da Ditadura Militar, mas vivemos outras ditaduras. Se o fenômeno Baby Boom continua existindo, eu ainda não sei qual é a geração mais significativa no Brasil. Tivemos tantas. Como representante das artes, acho que a geração dos Modernistas e dos Concretistas foram mais emblemáticas. Eram jovens demais e geniais. Na música, toda aquela geração de Tom Jobim e Vinícius. Na imprensa, digo que hoje me agrada mais esta geração que escreve em blogs. Poderia citar inúmeros escritores, poetas, críticos. Inclusive, aqueles que desistiram do livro. Mas não vamos cometer esta loucura. No mercado financeiro eu não tenho um nome na ponta da língua pra citar. Na indústria, existem empresas jovens e interessantes. Assim como designer, arquitetura, moda e afins. Eu pertenço a geração de tanta gente. Só pra citar, Santiago Nazarian (escritor) e Alexandre Herchcovitch (estilista) pertencem a minha geração (reconhecida como “X”). O que nos diferencia da geração Baby Boomers é que pegamos o bonde andando. E numa velocidade maluca. Estamos no meio destes extremos entre a geração Baby Boomers e a geração “Y”. Tanto podemos ensinar quanto aprender. Tanto podemos criar como re-inventar. Nascemos com video-games, vimos o surgimento e morte dos computadores ditos XT, 286, 386, 486, usamos o Pentium/Intel ainda jovens e hoje desfrutamos de tantas tecnologias como MP3, Cameras digitais, blogs, internet, Unix, Windows, Mac, e meus óculos com grau possue tanta tecnologia quanto um celular ... Ainda não acredito em chips de inteligência implantados no corpo humano possa tornar uma geração melhor. Como Rauzito dizia: "Eu nasci à 10 mil anos atrás" e foi um sujeito moderno que revolucionou a música de sua época. Dos filmes, crescemos vendo esta indústria migrar infinitas vezes para tantos gêneros e afins. E muita coisa ainda nos irrita. Me irrita ser chamado de jovem. Eu tenho 35 anos e não considero-me jovem. No entanto, para a geração Baby Boomer ainda sou muito jovem. Se apareço com um livro vão dizer que sou um jovem escritor. Se vou negociar um novo emprego, chamo atenção por ser jovem e com muita bagagem. Será que é pelo ano de nascimento ou será pela aparência física? O bacana é que minha espiritualidade permitiu que eu construísse um background e uma maturidade que me deu segurança para realizar muitas coisas. E sou feliz por isto. Agora, gastar neurônios em compreender esta época que vivemos tem me custado muitas horas de noite sem dormir. E a isto tudo devemos a Globalização. Este termo que tem tornado tudo anônimo, tudo comum e pouca coisa interessante. Se a este termo devemos aos Baby Boomers eu estou quase certo que sim. O cineasta Alejandro Jodorowsky dirigiu um belo filme que chama-se “The Holy Mountain”. Neste filme, um guru escolhe 9 representantes - que são tais pessoas às que dominam aquela época : políticos, artistas, industriários - e seguem uma viagem mística em busca do alto-conhecimento. É um filme revolucionário. Hoje, sinto informar que estamos nas mãos da indústria. Tornamos escravos da mídia, do consumo, do poder, da inteligência mastigada. E como sub-produto muita coisa ruim chegam até nós sem pedir licença. Lima Barreto não é mais lido como antes e que pena. Freud virou piada em roda de conversa. E, geralmente, quem acha Freud um chato é porque, talvez, tenha lido apenas uma frase dele ou comprou a idéia de algum outro frustrado. Não podemos entender o século passado sem ter entendido Freud e a 2ª.Guerra Mundial. Apesar de tudo, eu sou amante das tecnologias. E tenho sérias restrições ao mundo muito moderno. Tenho como parâmetro analisar a indústria, os meios de comunicação, tais épocas e tentar encaixar-me em alguma coisa. Tudo com muita cautela. E o curioso é que a ousadia me encanta. Daí, ser chamado de jovem pode até ser motivo para algumas estravagâncias. O mundo moderno é bom e é ruim. Por isto, temo coisas e tento entender o mal que existe dentro da gente, de mim e de você. Pois, só entendendo este mal é que podemos ter noção do quanto praticamos o bem. O herói John Lennon fracassou porque mataram ele. E será que ele foi mesmo compreendido e ainda é ? Como Antunes Filho mesmo disse, temos que ter cautela com aqueles que dizem fazer o bem mas nunca analisaram o que tem de mal dentro de sí mesmo. Por que, muitas vezes, quem diz praticar o bem pode estar enganado sobre muitos conceitos. E pode surgir então novos monstros modernos que, para manter a paz, são capazes de tudo. E a tecnologia pode tanto ser boa para uma geração inteira quanto má. E ela está presente em tudo. Sim, as gerações deveriam conversar mais e ter mais compreenção. E viva el modernismo.

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