A Chinesa que perdeu vôo para San Francisco deu um baita peti no aeroporto de Hong Kong e acabou ganhando passagem para Los Angeles sem custos. O vídeo virou hit, isto é, teve milhares de acessos. Curiosidade ou não, o comportamento da senhora foi um tanto exagerado. Entretanto, por quanto mais ou menos a gente perde a cabeça ? Ontém, fui com amigos ver a peça (re-estréia) "Avenida Dropsie" - da Sutil Companhia de Teatro, e teve gente dando peti. Explico : - a peça deveria iniciar as 20:00 horas conforme programação. Já eram mais de 20:20 e chega um casal atrasado, acompanhados dos seguranças do Sesi. Até que encontrem suas poltronas, nisto já passaram mais 5 minutos. Eu olhei no relógio e eram 20:30 e não estava acreditando que o espetáculo ainda não começou. De repente, uma dupla de amigos levantam-se das cadeiras gritando : "Não acredito nesta falta de respeito, vocês chegam meia hora atrasados pra ver a peça e ainda querem suas poltronas?", "Era só o que faltava, vai começar tudo de novo". "Eu não enxergo lá de cima, vou ter que ir lá pra trás por culpa de vocês!". E os rapazes sederam os lugares e foram lá para trás, pra última fileira. Um deles resolveu ficar de pé. Dava dó. Tinha um que aparentava ter cerca de 40 anos e usava óculos de grau bem forte. Eu sentei na penúltima fileira e confeço que nem a cara dos atores eu conseguia ver direito. Tudo porque os ingressos esgotam rapidamente e os melhores lugares, adivinhem? O espetáculo é bom e faz juz à reputação. Apesar de que, eu economizaria algumas coisas, como o tempo de algumas cenas. Que eu cortaria. Por exemplo: - aquela chuva artificial que não acabava nunca, 10 minutos, muita coisa. Voltando ao peti ... Bom, eu daria um peti pra ver uma das peças da trilogia que o grupo Vertigem apresentou algum tempo atrás. É que eu tentei sim. Liguei num celular divulgado na imprensa e só dava caixa postal. Deixei trocentos recados que até hoje não retornaram. Eu ia até as locações pra tentar ver se entrava de algum jeito e voltava pra casa abanando as mãos. Primeiro era ter de enfrentar as filas enormes. Depois, os esnobes com seus "convites" em riste e nariz empinado achando que estava com bilhete da loteria premiado. Okay, eu não sou da panelinha que fez ou faz teatro na USP. Okay, eu não sou da tchurma e nem conhecia ninguém da produção e nem um mísero empresário que havia contribuído com algo e por conta disto teria cotas de ingressos. Mas eu precisava ter visto uma das peças. Na época, eu fazia crítica literária na PUC e estava pesquisando diretores como Antunes F., o Zé Celso, Gerald, vários. E caiu de ver o Vertigem e não deu pra ver nada. Esta é que é a verdade. Eu nem conhecia direito o diretor, só de nome. Anos depois, topei com sua trupe numa peça no Sesc Belenzinho. Era um grupo latino apresentando uma versão de "Hamlet" e sentei ao lado do diretor. Acontece que não tive coragem de comentar sobre o episódio. Eu tinha ficado tão aborrecido, tão chateado, que desisti. As recentes peças do grupo eu nem tenho animado em vê-las. A cicatriz acabou ficando e quando penso na labuta toda, desisto de ver. Quando sair algo em DVD, eu compro um pra matar a curiosidade. Um amigo meu já deu peti, num restaurante, por conta de prato mau cozido. Eu com dinheiro pra pagar ingresso, enfrentando filas, tudo como manda o figurino, ainda assim tem coisas que não consigo ver e fico na minha. Bom, também não é o maior espetáculo da terra. Só pra vocês terem uma vaga idéia, pouco tempo atrás vi o fabuloso espetáculo "Les Éphémères" da companhia francesa Théâtre du Soleil, e foi tão facinho. Obvio que não consegui comprar o ingresso pela rede do Sesc. Esta esgotou num piscar de olhos. Em menos de 4 horas haviam vendido tudo. Pois é. Tenho minhas dúvidas. Um amigo meu que não viu a peça em Grenoble, veio ver em São Paulo. Coitado. Estava ao meio dia em frente ao Sesc da Avenida Paulista, puta fila. Ele ficava me ligando e contando do agito, da demora. Depois, ligou dizendo que não tinha dado certo. Desistiu de vê-los no Brasil. No meu caso, estava tendo uma aula num domingo e uma amiga comentou de tentar ir ver o espetáculo. Que por conta do feriado muita gente tinha desistido de ver. Era a última semana. Fomos e conseguimos entrar. O mais engraçado era que muita gente tinha entrado da mesma forma, no tudo ou nada. E já estando lá dentro comportavam-se como se estivessem na ilha de Caras. Puxa, desculpa a franquesa, mas quanto deslumbramento. Já o fato do peti, eu daria um mega peti pra muita coisa. Contudo, penso que não vale a pena, é perder a pose demais. Como Lobão cantava, "Troca seu destino por qualquer acaso ... E perdeu a pose ...". Pra mim dar peti é o fim da elegância, da educação e dos bons costumes, é coisa de povos bárbaros. Dar peti é hábito de gente sem classe e a inconformidade gera uma necessidade urgente de exigência por interesses próprios, sem a necessidade de um entendimento da situação mais global. Entretanto, quem falou que é proibido dar peti ? Tem horas que a gente esquece dos bons costumes e voltamos a ser povos bárbaros. Ainda bem que aposentaram a guilhotina. E a senhora Chinesa do vídeo até que foi engraçadíssima sem saber. Tadinha. Ela agora deve estar num mega flat em San Francisco, de fronte praquela baía maravilhosa, com vista pra ponte Golden Gate, saboreando um filé baby beef ao ponto, com um vinho californiano safra 1998, ouvindo Miles Davis e rindo do mundo. Como é bom ter dinheiro. Isto é, viajar para San Francisco numa época destas.
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