segunda-feira, 16 de julho de 2007

4:55



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Ela acordou, aflita, andava pelo apartamento vestindo só uma camisolinha de seda branca, estava descabelada, aos prantos, parecia estar diante de um espectro, talvez, bandido ou coisa parecida.
Ela acordou, e tensa, e correndo de um lado ao outro da sala; já não era mais caminhadas; da minha janela, por detrás das cortinas transparentes, observava a musa do 71, sempre bela, meio esquisita, acordava pelas tantas, madrugadas adentro, e despenteada, e de camisolinha, sem motivos aparentes; sua beleza, um tipo Brigitte Bardot, cabeleiras louras e dentes tortos salientes, charmosos e brancos; sim, já cruzei com tal senhorinha certa vez, estávamos dentro de um mesmo bar; eu por contemplar sua formosura; a musa fazia charme bebericando seus copos de uísque e fumando cigarrilhas mentoladas, ficava brincando com a fumaça e as baforadas, fazendo desenhos no ar.
Ela acordou, foi até a sacada contemplar a rua, a madrugada, o ar frio, estava nua, peladinha, ali, igual uma estátua de Victor Brecheret; pegou uma taça de champagne e [como se num só fólego] bebeu tudo; de repente, recuou alguns passos e veio correndo ... plaft .... saltou; o corpinho branco, de pele igual porcelana, foi deixando suas marcas pelo paredão, andar por andar, kicando igual bola e arrebentando lá embaixo; que merda; minutos passaram; fato suficiente para acordar a vizinhança, trazendo policiais, ambulâncias, corpo de bombeiro; pessoas comuns foram aglomerando ao redor das grades de proteção, uns curiosos isto sim, e passantes faziam romarias, rezando terço, fazendo sinal da cruz; a rua congestionada já não tinha o mesmo aspecto; as comadres diziam que foi uma santa que morreu, só porque o rostinho intacto lembraria uma virgem, diziam ser pura, Santa Cecília; Comentaram injustiças e bisbilhotices; disse : - alguns, de morte morrida, matada; outros...
Ela acordou. E não mais nesta vida!


_umberto.alitto

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